sábado, 28 de novembro de 2015

#188 High in Love

O som está alto. Pessoas vibram em gritos no meio das luzes e do ar quente se propaga de corpo para corpo. Saltos, mãos no ar, ritmo e música num uníssono que sai das vozes de todos. Estamos todas, umas com as outras!
Dançamos quase numa descrição do que ouvimos, damos gargalhadas altas e fortes, um tanto ou quanto trapalhonas, mas que caracterizam a nossa disposição. Abraços e brindes olhos nos olhos. Fazemos promessas eternas, de coração, seladas com gritinhos histéricos e felicidade na alma.

Miragem. Os meus olhos encontram os teus, e o teu sorriso abre o meu. As saudades que eu tinha de ti e ainda ontem os teus braços eram a minha cama. Beijo-te e tu beijas-me de volta, ergues-me no ar e rodopias-me como se fosse o teu troféu. A música alta entra em nós e o mundo gira demasiado rápido à nossa volta enquanto nos vivemos. Fico presa naquele momento em que o teu rosto fica de todas as cores que te atingem das luzes. Drogas-me de amor... Olá, onde é que andaste a minha vida toda?


Ironicamente, o diabo mostra-me o sorriso dum anjo e acho que ele sabe disso no momento em que me abraça, quase num pedido de desculpas por ter demorado tanto a chegar e a ficar. 

Seguras a cerveja e deixas-me dançar e extravasar, porque tu sabes que aquele instante é meu e ninguém mo pode tirar. Tens esse dom, de saber quando ir e vir. Contemplas-me e esperas-me de volta... Atropelado por um retorno esmagador de alegria agarrada ao teu pescoço enquanto arfas para não entornar nada. Vês-me antes de eu me ver e rendes-te a mim, comigo entregue a ti. Perdida em ti, quero saber... Ficas comigo todos os dias em que formos felizes?

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

#187 Nem que em outra vida a gente se encontre

Há histórias que precisam de mais de uma vida p'ra terminar, e quando me refiro a esse ponto final é a dar certo. Há vidas que não cabem nas nossas e há vivências que não podem "checar" intemporalmente às dos outros. Existe um tempo e um espaço para o equilíbrio se dar, e ingrata a experiência de quando falhamos num desses termos: ou o espaço ou o tempo não são os apropriados.

Sou apologista de saborear cada trago como se fosse a última gota e isso tem consequências futuras, mas próximas demais. Más! Minto. Exaustivamente degradantes- até ao ponto de ser desumano.

Somos feitos de matéria mundana e somos tão mais que isso: concebemos ligações com o próximo (seja de qualquer tipo ou género) que te fazem entrar numa apoteose sinistra. Eu, individualmente, jogo num sistema de entropia radical: habituo-me facilmente à desordem, que acaba por me acalmar e definir. Sou extremista e pouco ligeira, tanto que qualquer que seja a consequência, eu não morro sem tentar.
Ultimamente, sinto esse sabor amargo e, sim, "tem tudo p'ra dar merda". Mas agora, é o sabor do mundo, são pessoas, energias e emoções que fazem com que encontre em mim, todos os dias, alguém um pouquinho melhor.
Seria hipócrita se não reconhecesse a bomba relógio na qual medito há quase meio ano, e tenho consciência de que o final se aproxima: que da última vez que os olhares se cruzarem, que o abraço se der e que as palavras saírem, irão partir-me em pedaços; a última vez que a água salgada banhar a minha pele irá fazer-se sentir como uma faca e a brisa que outrora me beijou, irá secar os meus olhos. Nunca isso será motivo p'ra deixar de sentir as coisas tão fortes quanto as sinto agora, de me entregar a cada um e a cada local novo de forma tão intensa e só desse modo a adrenalina me faz sentir viva!!! Agora. Se fosse de outro jeito não era tão real. É por ser tão fugaz que vale o que vale. Agora, em que cruelmente, tudo é momentâneo e "passageiro", agora é assim, e não há solução.

Não estava pronta (mas quem estaria?) p'ra abrir tanto os braços e sentir tudo a fugir-me. Mas eu prometo que "mais tarde a gente se encontra". Nem que seja numa outra vida.
"A gente sabe que deu certo quando já não temos por onde fugir e a única solução é deixar ir!"

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

#172 Carta ao meu futuro amor

Olá meu amor do futuro.
Escrevo a alertar-te do que te espera, nesse corpo onde vives e a minha alma irá viver(?!).
Irei dar-te o melhor e mais puro de mim, mas prepara-te também para o meu pior: o mau feitio, a teimosia e as crises bipolares de te amar tanto e de querer de seguida o meu espaço.

Terás de te habituar às minhas fracas horas de sono; de acordares a meio da noite comigo a ter pesadelos, e de me levantar 20 vezes para ir fazer alguma coisa porque me vou esquecer se não fizer na hora..

Podes até estranhar, mas na hora de apagares a luz eu vou pedir-te para que deixes algo aceso, dado o meu eterno medo do escuro. Vou vacilar na hora de saíres da cama e pedir p'ra ficares, mas serei a primeira a arrancar-te comigo para irmos passear ou rumarmos à praia, tomarmos um copo e dançar até de madrugada, um com o outro, com os teus olhos e lábios a beber dos meus. 

Percebe que sou impulsiva e tenho um filtro completamente furado no que me sai pela boca, mas nada do que te possa dizer é com rancor. Vou precisar que na maior parte das batalhas, me abraces e me cales, para acalmar o furacão. Eu vou reclamar, mas não me soltes. Nunca.

Vou dançar enquanto cozinho, vou-te abraçar a toda a hora e pedir-te a mão. Vou rir alto, fazer a dança do quadradinho no meio de uma loja e entrar em êxtase na rua sempre que vir um cão. Vou parar o carro para ir ver se o gajo atrás de mim não atropela o gato, e vou chegar a casa com um pássaro que partiu a asa para me ajudares. Isto tudo enquanto a alça do portátil me tenta esganar, as chaves na boca e não tenho mais mãos para segurar as marmitas. Um festival, portanto!

Raras serão as vezes que me possas encontrar a partilhar os meus problemas. Sou péssima em jorrar lágrimas explicativas, porque o que me dói calada, dói ainda mais quando o pronuncio. Por isso insiste em fazeres-me sentir bem, nem que seja com um abraço a dizer mentiras do tipo "Vai ficar tudo bem!".

Dou um braço por ti, defender-te-ei como uma leoa que ruge pelo seu felino; e above of all farei de tudo para que tenhas paz comigo, contigo e connosco, "sem filtros", porque deitar a cabeça na almofada com o coração limpo não tem preço. E como sou de extremos "gosto tanto de ti que até mete nojo!"

Esta é a carta ao meu futuro amor.
-editado em Agosto 2015, Novembro 2015, Outubro 2016

Carta a quem eu era quando deixei de ser.

Miúda, ela vai partir e tu vais deixar de ser filha. E eu quero-te avisar que ela vai partir esta noite. Não precisas de ir buscar o pijama ...