segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Bailarina Numa Caxinha de Música

Não poderia faltar este tema nestes pequenos desabafos que passo para papel, sendo ele o maior motivo pelo qual a minha vida tem sentido.
Existem imensas formas de demonstrar palavras, atos, sentimentos e até experiências. Um deles (e que me agrada muito) é a escrita. O outro, e não o mais óbvio, mas que me dá a liberdade de expressar TOTALMENTE e de não deixar nenhum assunto por focar: o movimento.
Desde sempre, o Homem teve ritmo no corpo: é uma sensação primitiva, uma sensação que nasce connosco: sendo capaz de o exteriorizar (bem) ou não. Na dança, o interessante é isso mesmo: não é só o corpo que mexe, são as nossas emoções; é a nossa alma que deixa transparecer tudo aquilo que guarda.
No sabor de cada passo, de cada movimento existe uma vivência, e aqueles que executo, têm muita força, pelo menos em mim, têm. Este modo de comunicação, é aquele que em mim, mais tem efeito. É impossível, a meu ver, ter inimigos a dançar; aqueles que me acompanham nas piruetas, estão amarrados a mim com um laço eterno. É esse “desporto” que me faz sentir viva, que me faz rir e chorar, querer ir mais além e tornar os meus sonhos em objetivos. É pela dança que não desisto, é pela música que pulsa em mim, que respiro todos os dias e acredito sempre que o dia de amanhã será melhor que o de hoje.
Sistematicamente, deparo-me com cidadãos mecanizados, protocolizados com a incapacidade de entender aquilo a que me refiro. No entanto não os julgo. A técnica aprende-se, a dança não se aprende: ou nasce connosco ou não. Evidentemente, lamento por aqueles que nunca possuirão um sentimento de dádiva tão grande como o que nós bailarinos possuímos. Não se trata apenas dum “ganha-pão” saudável e agradável, trata-se duma forma de encarar a Vida. Eu decidi dançar a vida, abrir a alma aquilo que ela me reserva e coreografar todos os meus momentos (felizes ou infelizes) podendo prendar todos aqueles que, pelo menos gostam de ver, com etapas que fazem parte do meu “eu”. E é essa gratidão, o barulho dos aplausos, que indica que o sentido que quis dar aos meus dias foi o correto.
O mundo não tem lógica sem música, não tem qualquer tipo de interesse sem esse mistério do movimento. Uma atitude dançada, torna-se numa atitude espontânea, intensa e credível. Atenção que a falsidade é também “dançável”, mas não se torna por isso, pouco credível. O irónico é eu estar a colocar em palavras o que a dança é para mim ao invés de dançar. De qualquer forma, esse tema torna-se impossível de ser definido, dado que definir é limitar e eu não encontro nenhuns parâmetros que me possam limitar ao executar qualquer dança.
É de referir que quando menciono estes factos inerentes àquilo que escolhi para a Vida, não quero com isso dizer que apenas o estilo com o qual me identifico é aquele que torna a dança tão irresistível. Todos temos preferências, e nada torna a minha mais importante que a de outrem. No entanto, cabe a cada um, mostrar que de facto, o estilo que escolheram é aquele que melhor os define e que mais eficazmente, demonstra os seres nos quais se tornam a cada dia.
Teoricamente, a técnica faz de cada um, um bom bailarino, e é irrefutável que um plié bem feito é bonito de se ver, gostando de clássica ou não. E aquilo que não se vê? Pois é, caros amigos, aí entra então, o dom ao qual me refiro. Nus de preconceitos e futilidades, o movimento fluido que sai daquilo que nos define como essência de humano, torna-se muito mais arrepiante do que um mortal à retaguarda com finalização de um giro em pontas.
Desafio-vos a experimentarem das maiores adrenalinas que a Vida me proporcionou: até o coração explodir de tanto entusiasmo, e façam-no de olhos fechados que tem outro sabor!

Terminando, não teria sequer sentido não ser bailarina, porque eu nasci numa caixinha de música...

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