Existem imensas formas de demonstrar palavras, atos,
sentimentos e até experiências. Um deles (e que me agrada muito) é a escrita. O
outro, e não o mais óbvio, mas que me dá a liberdade de expressar TOTALMENTE e
de não deixar nenhum assunto por focar: o movimento.
Desde sempre, o Homem teve ritmo no corpo: é uma sensação
primitiva, uma sensação que nasce connosco: sendo capaz de o exteriorizar (bem)
ou não. Na dança, o interessante é isso mesmo: não é só o corpo que mexe, são
as nossas emoções; é a nossa alma que deixa transparecer tudo aquilo que
guarda.
No sabor de cada passo, de cada movimento existe uma
vivência, e aqueles que executo, têm muita força, pelo menos em mim, têm. Este
modo de comunicação, é aquele que em mim, mais tem efeito. É impossível, a meu
ver, ter inimigos a dançar; aqueles que me acompanham nas piruetas, estão
amarrados a mim com um laço eterno. É esse “desporto” que me faz sentir viva,
que me faz rir e chorar, querer ir mais além e tornar os meus sonhos em
objetivos. É pela dança que não desisto, é pela música que pulsa em mim, que
respiro todos os dias e acredito sempre que o dia de amanhã será melhor que o
de hoje.
Sistematicamente, deparo-me com cidadãos mecanizados,
protocolizados com a incapacidade de entender aquilo a que me refiro. No
entanto não os julgo. A técnica aprende-se, a dança não se aprende: ou nasce
connosco ou não. Evidentemente, lamento por aqueles que nunca possuirão um
sentimento de dádiva tão grande como o que nós bailarinos possuímos. Não se
trata apenas dum “ganha-pão” saudável e agradável, trata-se duma forma de
encarar a Vida. Eu decidi dançar a vida, abrir a alma aquilo que ela me reserva
e coreografar todos os meus momentos (felizes ou infelizes) podendo prendar
todos aqueles que, pelo menos gostam de ver, com etapas que fazem parte do meu
“eu”. E é essa gratidão, o barulho dos aplausos, que indica que o sentido que
quis dar aos meus dias foi o correto.
O mundo não tem lógica sem música, não tem qualquer tipo de
interesse sem esse mistério do movimento. Uma atitude dançada, torna-se numa
atitude espontânea, intensa e credível. Atenção que a falsidade é também
“dançável”, mas não se torna por isso, pouco credível. O irónico é eu estar a
colocar em palavras o que a dança é para mim ao invés de dançar. De qualquer
forma, esse tema torna-se impossível de ser definido, dado que definir é
limitar e eu não encontro nenhuns parâmetros que me possam limitar ao executar
qualquer dança.
É de referir que quando menciono estes factos inerentes
àquilo que escolhi para a Vida, não quero com isso dizer que apenas o estilo
com o qual me identifico é aquele que torna a dança tão irresistível. Todos
temos preferências, e nada torna a minha mais importante que a de outrem. No
entanto, cabe a cada um, mostrar que de facto, o estilo que escolheram é aquele
que melhor os define e que mais eficazmente, demonstra os seres nos quais se
tornam a cada dia.
Teoricamente, a técnica faz de cada um, um bom bailarino, e
é irrefutável que um plié bem feito é bonito de se ver, gostando de clássica ou
não. E aquilo que não se vê? Pois é, caros amigos, aí entra então, o dom ao
qual me refiro. Nus de preconceitos e futilidades, o movimento fluido que sai
daquilo que nos define como essência de humano, torna-se muito mais arrepiante
do que um mortal à retaguarda com finalização de um giro em pontas.
Desafio-vos a experimentarem das maiores adrenalinas que a
Vida me proporcionou: até o coração explodir de tanto entusiasmo, e façam-no de
olhos fechados que tem outro sabor!
Terminando, não teria sequer sentido não ser bailarina,
porque eu nasci numa caixinha de música...
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