sábado, 5 de outubro de 2019
Ensinar o(a) luto(ar)
Não se ensina o luto. Não se ensina a lutar. São duas premissas a reter, a meu ver, importantíssimas.
Não se sabe qual é o luto e muito menos a luta, a não ser o indivíduo que o vive na 1ª pessoa.
Não se sabe qual é a perda real: se é mãe, pai, filha, tio ou avô; se é melhor amiga, confidente, protetora ou protegida; se é a tal, o grande amor da vida, o único amor da vida, a razão da vida... Ou até se são todos dentro do mesmo. Se te morre uma pessoa que te é tia, não tens o direito de dizer "Eu sei o que é isso, querido, eu também já perdi a minha". Não sabes o que ela era REALMENTE para ele, não sabes o que isso é, simplesmente. Não sabes!
A perda de alguém amado não é comparável à dor de outro, isto é, não é porque a mim também me dói, que a ti dói menos; e não é porque tu sabes que a mim me faz falta que a ti fará menos e te dará algum conforto. A dor que o enlutado carrega é dele, e nenhum de nós a imagina. Por muito que tentemos colocar-nos na pele do próximo, somos limitados à nossa biologia humana que faz com que mesmo empáticos, não possamos conhecer na totalidade a dor do outro.
O luto não é ensinável, não há um guião a seguir e um prazo para tal. A necessidade de cada um prende-se às vivências que teve, que carrega e não é possível de minimizar com comparações. Para o enlutado, este é um assunto importante:
-Não sabes o que passou até à morte do seu amado;
-Não sabes o que viu, viveu, tentou até à hora;
-Não sabes as imagens que recorda a cada hora nem o peso que elas carregam;
-Não sabes se foi forte até então, se já caiu na real ou não, se previa ou não;
-Não sabes o que a rotina dele muda, nem o impacto que isso tem na vida dele;
-Não sabes o que escondeu ou esconde para proteger ou não os que lhe restam, ou até se algo lhe resta.
-Não sabes o que essa pessoa era para ele, qual a relação REAL e quais as mudanças que isso implica.
Pura e cruamente, não sabes merda nenhuma. O teu luto é TEU, não é partilhável e é pessoal.
A luta é ou não imediata, mas duma coisa tenho a certeza: é intemporal. Pode vir antes, durante ou após o luto e não é do direito de ninguém obrigar a que a luta surja.
Há uma necessidade de "a vida continuar" após um momento traumático, geralmente apressada por terceiros, mas entenda-se que ninguém sabe a bagagem que cada um carrega e o que a morte traz com ela. Se para um é possível seguir caminho imediatamente após, para outro é tempo de baixar os braços e finalmente cair, deixar de lutar e entrar em luto.
"Tens de seguir em frente"? Não tens. Se calhar foi o que fizeste até agora, e agora, tens apenas de te deixar estar.
A regra é que não há regras, e o tempo, esse é promissor de tudo, é o melhor amigo das frases feitas que curam tudo, e a seu tempo, esperançosamente, dar-vos-emos razão...
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