sábado, 31 de março de 2018

Juntamos os trapinhos?


-Se vires que não encontras nada, podemos procurar uma casa juntos!

O coração dela tremeu; a boca secou e as mãos suavam como se estivéssemos no calor do verão, em pleno mês de Março, 4 meses depois de os seus lábios se terem tocado pela primeira vez.

-Tu… Tu estás a dizer-me para irmos viver juntos?

A resposta a isso deixava-a sem qualquer reação. Fosse ela qual fosse. Queria de coração que tudo desse certo, sentia-o desde a primeira vez que o viu. Não quando o olhou, quando o viu. Mas sabia tão bem quanto ele que tinha tudo para dar errado. O êxtase desta vivência era nenhum dos dois ter a sua sanidade mental equilibrada com a atração que ambos sentiam.

-Eu acho que sim. Não sei. Não queres?

Notava-lhe um medo miudinho, como se ele estivesse tão nervoso quanto ela. Claro que ela queria. Queria tanto que tinha medo que desse tudo errado. E tinha tudo para dar… Duas pessoas, com um passado tão diferente, com mais de duas décadas separados; com toda uma vida até lá sem saberem da existência um do outro. Ela sensível, faladora e dona do seu nariz, ele frio, fechado e individual. O que tinham em comum, era já terem ultrapassado todos os limites de velocidade numa relação relâmpago.

-Espera. Tu estás a falar a sério? Estou em choque.

E aí o nervosismo dele passou o dela. “Porra, estou. Tu achas que não devemos?”.
O que ela achava neste momento era que não conseguia sequer ligar o carro. Parada no estacionamento, perdida no vazio da sentença “Eu vou mudar-me com um homem que conheço há uma centena de dias”. Estava louca. Mas o que é o amor sem o seu Q de loucura? Queria-o. Muito. E sabia que era querida por parte dele também. Isso não devia bastar?
Corria uma brisa muito leve, e o sol já estava a pôr-se. Foi a última luz do dia que viu antes de aceitar a viagem da sua vida, de um amor, que com certeza veio de outras vidas.


Carta a quem eu era quando deixei de ser.

Miúda, ela vai partir e tu vais deixar de ser filha. E eu quero-te avisar que ela vai partir esta noite. Não precisas de ir buscar o pijama ...