-Se vires que não encontras nada,
podemos procurar uma casa juntos!
O coração dela tremeu; a boca
secou e as mãos suavam como se estivéssemos no calor do verão, em pleno mês de
Março, 4 meses depois de os seus lábios se terem tocado pela primeira vez.
-Tu… Tu estás a dizer-me para
irmos viver juntos?
A resposta a isso deixava-a sem
qualquer reação. Fosse ela qual fosse. Queria de coração que tudo desse certo,
sentia-o desde a primeira vez que o viu. Não quando o olhou, quando o viu. Mas sabia tão bem quanto ele que tinha tudo para dar errado. O êxtase desta vivência era nenhum dos dois ter a sua sanidade mental equilibrada com a atração que ambos sentiam.
-Eu acho que sim. Não sei. Não
queres?
Notava-lhe um medo miudinho, como
se ele estivesse tão nervoso quanto ela. Claro que ela queria. Queria tanto que
tinha medo que desse tudo errado. E tinha tudo para dar… Duas pessoas, com um
passado tão diferente, com mais de duas décadas separados; com toda uma vida
até lá sem saberem da existência um do outro. Ela sensível, faladora e dona do
seu nariz, ele frio, fechado e individual. O que tinham em comum, era já terem ultrapassado todos os limites de velocidade numa relação relâmpago.
-Espera. Tu estás a falar a
sério? Estou em choque.
E aí o nervosismo dele passou o
dela. “Porra, estou. Tu achas que não devemos?”.
O que ela achava neste momento
era que não conseguia sequer ligar o carro. Parada no estacionamento, perdida
no vazio da sentença “Eu vou mudar-me com um homem que conheço há uma centena
de dias”. Estava louca. Mas o que é o amor sem o seu Q de loucura? Queria-o. Muito. E sabia que era querida por parte dele também. Isso não devia bastar?
Corria uma brisa muito leve, e o
sol já estava a pôr-se. Foi a última luz do dia que viu antes de aceitar a
viagem da sua vida, de um amor, que com certeza veio de outras vidas.