quarta-feira, 21 de setembro de 2016
"Felizmente serás rapaz" - A carta de uma mãe a um filho
Meu amor,
A sorte que tu tens em ires nascer menino. Ainda te tenho dentro de mim mas já tenho tanto a te falar... Os avós, por exemplo, não me deixam comer sushi. Dizem que faz mal e Deus me livre de eu fazer algo de mal a ti.
Meu bebé, tenho muito a contar-te do mundo que vais encontrar. Juro-te que amor não te faltará e que e eu farei de tudo para te tornar num homem encantador, como o avô. Será ele que te levará à escola na primária, já adivinho... Por essa altura, começas a manifestar-te enquanto rapaz. Terás as brincadeiras estúpidas de apalpar o traseiro às meninas e repreender-te-ei de tal forma que nunca o repetirás. Serás o único a não o fazer e os teus amigos chamar-te-ão mariquinhas? Estarei aqui para minimizar os efeitos disso.
Pela altura da adolescência, irás ver meninas a tornarem-se curvilíneas e tentarás chamar a atenção delas. Haverá uma que te irá dizer que não te quer (o que ela perde!!) mas irá querer o teu amigo Joãozinho e tu irás chamar-lhe os piores nomes de sempre, fazer troça da moça e desmembrar a dignidade dela com ou sem razão. Aí eu interferirei! Jamais farás tamanhos atos. Não menosprezarás nenhuma menina pelas atitudes, forma de vestir, forma de ser, desse jeito machista. Não está tudo bem quando a Inês tiver de baixar a cara ao passar por ti e pelos teus amigos; não está tudo bem tu chamares "vadia" a uma menina, e não, não é "normal na idade deles".
E quando as tuas hormonas começarem a fazer-te querer mais duma mulher, e ela não o quiser, a tua mão irá subir da lombar, para as costas; a tua boca não baixará o pescoço dela, não, não se ela não quiser. Não é "normal dos rapazes" tu obrigares, depois duns copos, a que ela te deixe colocares-lhe a mão dentro das calças. E se um dia te deixar, não és o macho da zona ao contares à freguesia inteira que a Maria é uma "fácil". Confiou em ti, nem que fosse por segundos e merece mais de ti que meia dúzia de suspiros. Mostrar-te-ei o valor do amor e confiança até tu os aceitares no teu coração e distinguires o bem do mal.
Meu amor, quando um dia namorares/te juntares/casares , e a Joana te levantar a voz, um olho negro resultante duma agressão tua não será solução. A mãe ajudar-te-á, até ao fim dos dias, a ter sempre a melhor atitude, a ter paz na alma, mas nunca deixará que um ato de animal passe em vão. E das consequências disso eu não te posso proteger.
E se te tornares em tudo isto e lhe deixares um bebé, tal como o papá me deixou, não te terás tornado em nada mais do que o teu próprio pai, e dele a única coisa que trago és tu, meu amor, e a esperança de que a sorte de ires nascer homem não arruíne a felicidade de alguém ter nascido mulher.
Com amor,
Mãe.
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